terça-feira, 29 de junho de 2010

"Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Sou teimosa. Hipocondríaca. Raivosa, quando sinto-me atacada... Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações.Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Passat." 



Fernanda Young

[mas cabe direitinho na Bellusci]



segunda-feira, 21 de junho de 2010

- Ela parece distante... talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem? '

[do Filme-O Fabuloso Destino de Amélie Poulain 9829]

sexta-feira, 18 de junho de 2010

"Pensava que escrevia por timidez, por não saber falar, pelas dificuldades de encarar a verdade enquanto ardia, arvorava, arfava. Há muitos que ainda acreditam que começaram a escrever pela covardia de abrir a boca. Nas cartas de amor, por exemplo, eu me declarava para quem gostava pelo papel, e não pela pele, ainda que o caderno seja pele de um figo. O figo, assim como a literatura, é descascado com as unhas, dispensando facas e canivetes. Não sei descascar laranjas e olhos com as unhas, e sim com os dentes. Com as mãos, sei descascar a boca do figo e o figo da boca, mais nada. Acreditei mesmo que escrever era uma fuga, pedra ignorada, silêncio espalhado, um subterfúgio, que não estava assumindo uma atitude e buscava me esconder, me retrair, me diminuir. Mas não. Escrever é queimar o papel de qualquer forma. Desde o princípio, foi a maior coragem, nunca uma desistência, nunca um recuo, e sim avanço e aceitação. Deixar de falar de si para falar como se fosse o outro. Deixar a solidão da voz para fazer letra acompanhada, emendada, uma dependendo da próxima garfada para alongar a respiração. Baixa-se o rosto para levantar o verbo. É necessário mais coragem para escrever do que falar, porque a escrita não depende só de ti. Nasce no momento em que será lida."


Carpinejar



quinta-feira, 3 de junho de 2010


"Hoje acordei inteira.
Migalhas? Pedaços?
Não, obrigada. 
Não gosto de nada que seja metade.
Não gosto de meio termo. 
Gosto dos extremos. 
Gosto do frio.
Gosto do quente (depende do momento.) 
Gosto dos dedinhos dos pés congelados ou do calor que me faz suar o cabelo.
Não gosto do morno.
Não gosto de temperatura-ambiente. 
Na verdade eu quero tudo.
Ou quero nada. 
Por favor, nada de pouco quando o mundo é meu. 
Não sei sentir em doses homeopáticas. 
Sempre fui daquelas que falam "eu te amo" primeiro. 
Sempre fui daquelas que vão embora sem olhar pra trás. 
Sempre dei a cara à tapa. 
Sempre preferi o certo ao duvidoso. 
Quero que se alguém estiver comigo, que esteja.
Mesmo que seja só naquele momento. 
Mesmo que mude de idéia no dia seguinte."

Fernanda Mello